Por Roberto Fávaro
(Reportagem publicada na revista "Sampa" - Edição nº Zero - Dez/2008)
A capital paulista é caracterizada por sua forma multifuncional e a música não é exceção. Adilson Oliveira, músico estudioso da cidade traça um perfil extremamente peculiar sobre as canções da metrópole
“É como música para os ouvidos”. Conversamos com Adilson Oliveira, paulistano, músico profissional e especialista em arranjo e composição, coordenador da equipe de cordas do conservatório Villa Lobos, centro de formação musical particular conhecido por sua qualidade. Seus estudos o levaram a desvendar muito dos mistérios musicais que a nossa cidade reserva.
Ele acredita que a nossa ”São Paulo musical” tem o mesmo padrão dominante que está determinado nos dizeres em latim na bandeira da cidade: “Não comando, comandante!” Em São Paulo, não há um ritmo regional característico da cidade, mas existe um enorme patrimônio musical extremamente singular, caracterizado pela diversidade de viver em uma da maiores metrópoles do mundo. É isso que queremos mostrar nas próximas páginas.
Roberto Fávaro: Conte-nos quando você começou a se interessar por música, quais foram suas primeiras influências que o levaram a atuar na área profissionalmente.
Adilson Oliveira: Comecei me interessar por música desde pequeno, eu fui muito influenciado pelo meu pai e passei a ouvir estilos diferentes. Através dele que eu conheci música erudita, sobretudo música brasileira, como Villa Lobos, por exemplo. Eu me lembro que tinha um programa chamado Projeto Minerva, bem legal, mostrava muitas coisas. Lembro-me disso, de ouvir no rádio. Fui ouvindo sempre de tudo, principalmente Beatles. Até na época meu pai brincava: “Os Beatles são da minha época meu filho!” E eu dizia: “não, Os Beatles são atemporais!”. O meu músico favorito, Johan Sebastian Bach tem mais de 300 anos. Então imagine, Os Beatles “engatinham” perto do cara.
Roberto: Então, você acredita que seus primeiros contatos com repertórios distintos o levaram a uma “iluminação” sobre qual caminho trilhar em sua carreira?
Oliveira: Isso sempre me levou a estudar mais a sério, eu ouvi música erudita, Rock`n Roll, música POP, muita MPB, é um lado muito forte que meu pai me mostrou e que eu sempre gostei. Depois que você vai estudando, conhece Jazz, Blues e no fim acaba conhecendo tudo. Nos meus instrumentos, por exemplo, no violão eu tenho muita influência de Andre Segovia, John William, Paco de Lucia, Rafael Rabello e na guitarra, a lista é grande: Eddie Van Halen é quem me fez interessar pelo instrumento de uma maneira séria. Considero que depois do Hendrix, ele foi o segundo cara a reinventar a guitarra. Também me influenciei muito por Steve Vai, Joe Satriani, Paul Gilbert. Tudo isso falando a respeito de instrumentos, pois como me formei bacharel em violão, composição e arranjo, você acaba estudando todos os eruditos, como Mozart e Villa Lobos.
Roberto: Você falou de muitas pessoas que o influenciaram, mas sobre os músicos paulistanos, tem algum músico ou banda que você goste?
Oliveira: Claro, têm vários. Um pessoal da década de 80 que eu ouvia muito Arrigo Guarnabé, Itamar Assumpção, eu o considero um gênio, infelizmente já falecido. Ele tem um disco chamado Sampa Midnight, que eu acho obrigatório para todo músico sério. Esta turma que estou falando faz um som que considero tipicamente paulistano, um som de capital. Premeditando Breque é um grupo muito legal, o Língua de Trapo que era um grupo que eu assistia bastante também, na área cômica. Eles faziam uma brincadeira, mas é um som que tinha muito a cara da cidade.
Roberto: Esses músicos que você citou realmente fazem parte do acervo musical paulistano, mas apesar disso, não vemos uma manifestação de um ritmo que venha da capital. Existe, por exemplo, no interior do Rio Grande do Sul o Chamamé, o Fandango, no Rio de Janeiro o Funk “Batidão”, mas em São Paulo não há nada parecido. Qual o seu ponto de vista? Existe uma música tipicamente paulistana?
Oliveira: São músicas que retratam bem as cidades. Neste ponto nós temos até músicos que não são paulistanos, mas que retratam muito bem a nossa São Paulo. O Tom Zé, por exemplo, é um músico tropicalista do estilo de Gilberto Gil, Caetano Veloso, aquela turma toda que fez em determinada época um som com a cara de São Paulo. Mas eu acho que o som dele incorpora muitos elementos de uma cidade grande, com os instrumentos musicais, por exemplo, uma serra elétrica que é um som comum para o paulistano, o som de máquinas industriais. Falar sobre ritmo aqui é complicado porque São Paulo é uma das poucas cidades que você tem opção de show de segunda a segunda e vários deles gratuitamente. Têm vários espaços aqui. Se você quiser um flashback, por exemplo, uma música lenta, tem baile pra isso, se quer ouvir Country, sertanejo tem também. São Paulo te oferece a oportunidade de aproveitar cada um dos estilos musicais, eu acho que essa diversidade é muito legal, mas realmente falar qual é o ritmo de São Paulo? Eu diria que todos.
Roberto: Existem alguns ícones como o Itamar Assumpção, Adoniran Barbosa no samba, que fizeram coisas muito diferenciadas. Levando em consideração o perfil histórico destas personalidades o que você considera crucial para que estes músicos tenham atingido o reconhecimento ao ponto que suas obras ganharem o título de obras Paulistanas?
Oliveira: Você falou do Adoniran Barbosa, eu ainda vou além tem um sambista ainda vivo, o Germano Mathias que é fantástico. Ele tem um trabalho muito legal que eu diria que seja uma coisa até ligada ao underground. Não é um cara que está na mídia, de vez em quando aparece em alguns programas, mas nunca esteve na mídia e faz um trabalho fantástico. O ritmo dele é aquele samba de breque, inclusive ele usa uma latinha que os sambistas antigos usavam muito, na época em que São Paulo era mesmo a terra da garoa, usavam uma latinha de engraxate, e faziam batuques ali. Os Demônios da Garoa têm um samba que é exatamente a cara de São Paulo junto com Germano Mathias. Além disso, você tem uma turma que faz uma MPB mais paulistana. Se você pegar, por exemplo, os primeiros trabalhos do Guilherme Arantes, nos anos 80 ele era chamado de “o poetinha de São Paulo”. E era de fato, um trabalho muito próximo que ele fazia de uma música paulistana ligada à Pop Music universal porque é a influência dele. Ele teve uma formação muito boa no piano e ele até fez parte de um grupo chamado “Moto Perpétuo” na década de 70, pouca gente sabe disso e que era um grupo progressivo. Guilherme Arantes fez parte disso e fez dentro de universo de uma MPB mais Pop, vamos assim dizer, eu não gosto muito de rótulo, a diversidade aqui é muito grande você tem vários músicos atuando em várias áreas com certeza eu acho que isso aqui não falta em São Paulo. Inezita Barroso, por exemplo, essa mulher pega uma música de raiz, abrangendo o Brasil todo, mas especificamente do interior de São Paulo e trouxe isso para a capital. Ela cantou Lampião de Gás que é uma música pra quem viveu uma época em que a iluminação pública era através de lampiões de gás. Se você conversar com uma pessoa de mais de 70 anos ela vai te falar como era e essa música retrata isso. É aquela coisa de você fechar os olhos e ouvir a letra e imaginar como foram mesmo as ruas de São Paulo, os paralelepípedos, a garoa caindo e alguém acendendo os lampiões de gás, é uma música paulistana e isso já tem muito tempo.
Roberto: Você comentou sobre Germano Mathias, sambista que você considera underground e esta vertente está em alta atualmente. A Rua Augusta, por exemplo, é tida como um circuito para o estilo alternativo. Como você vê este fenômeno? Ao invés de manter o padrão de quebra com o comum não acaba virando um modismo passageiro?
Oliveira: O grande problema é que tudo o que aparece, o mínimo automaticamente é assimilado. A contracultura, por exemplo, nos anos 60 surgiu como um antídoto contra a mesmice que existia na época, mas foi automaticamente assimilada pela indústria e virou um novo produto. E olha que veio como contra cultura. Aqui é a mesma coisa é até interessante citar a Rua Augusta. Para quem viveu, nos anos 60, no final dos anos 50 a Augusta era um “point”. A turma ia passear de “carrão”, ouvir os hits da época, Roberto Carlos, essa turma toda freqüentava lá e agora veja como as coisas são cíclicas, passaram-se duas, três décadas e está lá a Augusta como point de novo, acho que é uma característica da cidade. O bairro da Pompéia para o rock´n roll, foi lá que surgiu Os Mutantes, quer uma manifestação mais paulista do que Os Mutantes? O lugar ficou estigmatizado como o bairro roqueiro de São Paulo. Agora a coisa do pessoal cultuar o underground, isso sempre vai existir, porque é por onde todo mundo começa, é mais fácil de você começar com um trabalho caseiro, de garagem e algumas pessoas acabam tendo isso como estilo de vida. É uma maneira de se colocar em alguma tribo, isso se torna uma necessidade, é assim pra qualquer adolescente. Por outro lado se a gente pensar que bandas mundialmente famosas como os Ramones já foram undergrounds, Os Beatles já tocaram em porão, ai eu considero uma coisa boa. Existe criatividade por não haver uma cobrança de mídia o artista pode ir lá experimentar uma idéia que ele tem na cabeça.
Roberto: Então, o culto ao underground passa a ser mais uma “forma de se encontrar” do que uma expressão artística? Você considera uma questão de identidade musical ou comportamental?
Oliveira: Eu acho que é comportamental. Se você conversar de música com essas pessoas, alguns nem sabem aquilo que estão curtindo, não tem uma noção exata daquilo que estão ouvindo não sabem nem classificar às vezes um estilo musical. Acredito que esta questão de comportamento leve as pessoas a evoluir muito, a pesquisar a respeito, a seguir o embalo. Agora o que acontece com a música underground de uns tempos pra cá é que elas têm ficado muito elitizadas e está segregando um pouco. Muita gente criativa não está aparecendo porque o underground está tão cultuado que acaba ficando uma coisa meio elitista, um “clubinho” fechado.
Roberto: Nós falamos de muita coisa sobre São Paulo e suas características artísticas alternativas. Não há resposta certa para muitas coisas, mas o que você considera de fato música alternativa na cidade?
Oliveira: Eu acredito que não existe um alternativo puro e felizmente já não tem mais espaço para falta de profissionalismo. O que mais se aproxima de um “alternativo puro” aqui em São Paulo é a música instrumental, é um lance bem organizado, Jazz, MPB também. Você encontra saxofonistas muito bons, fazendo shows por ai, guitarristas excelentes, duos, trios, quartetos de violão. Temos compositores, mas nesse ponto quero criticar construtivamente, pois muitos deles estão usando moldes extremamente desgastados para criar, como as músicas de protesto, por exemplo, e não vai dar certo. Para as pessoas que gostam de música alternativa, eu recomendo pesquisar, pois tem muita coisa boa, mas não na internet, somente indo à procura pela noite, conferindo o músico trabalhando no palco, onde você vai ter acesso a conversar com ele, pois nesses espaços alternativos quando o show termina o músico se torna “mais um na multidão”. É a melhor forma de encontrar algo diferente, indo a campo.
(Reportagem publicada na revista "Sampa" - Edição nº Zero - Dez/2008)
A capital paulista é caracterizada por sua forma multifuncional e a música não é exceção. Adilson Oliveira, músico estudioso da cidade traça um perfil extremamente peculiar sobre as canções da metrópole
“É como música para os ouvidos”. Conversamos com Adilson Oliveira, paulistano, músico profissional e especialista em arranjo e composição, coordenador da equipe de cordas do conservatório Villa Lobos, centro de formação musical particular conhecido por sua qualidade. Seus estudos o levaram a desvendar muito dos mistérios musicais que a nossa cidade reserva.
Ele acredita que a nossa ”São Paulo musical” tem o mesmo padrão dominante que está determinado nos dizeres em latim na bandeira da cidade: “Não comando, comandante!” Em São Paulo, não há um ritmo regional característico da cidade, mas existe um enorme patrimônio musical extremamente singular, caracterizado pela diversidade de viver em uma da maiores metrópoles do mundo. É isso que queremos mostrar nas próximas páginas.
Roberto Fávaro: Conte-nos quando você começou a se interessar por música, quais foram suas primeiras influências que o levaram a atuar na área profissionalmente.
Adilson Oliveira: Comecei me interessar por música desde pequeno, eu fui muito influenciado pelo meu pai e passei a ouvir estilos diferentes. Através dele que eu conheci música erudita, sobretudo música brasileira, como Villa Lobos, por exemplo. Eu me lembro que tinha um programa chamado Projeto Minerva, bem legal, mostrava muitas coisas. Lembro-me disso, de ouvir no rádio. Fui ouvindo sempre de tudo, principalmente Beatles. Até na época meu pai brincava: “Os Beatles são da minha época meu filho!” E eu dizia: “não, Os Beatles são atemporais!”. O meu músico favorito, Johan Sebastian Bach tem mais de 300 anos. Então imagine, Os Beatles “engatinham” perto do cara.
Roberto: Então, você acredita que seus primeiros contatos com repertórios distintos o levaram a uma “iluminação” sobre qual caminho trilhar em sua carreira?
Oliveira: Isso sempre me levou a estudar mais a sério, eu ouvi música erudita, Rock`n Roll, música POP, muita MPB, é um lado muito forte que meu pai me mostrou e que eu sempre gostei. Depois que você vai estudando, conhece Jazz, Blues e no fim acaba conhecendo tudo. Nos meus instrumentos, por exemplo, no violão eu tenho muita influência de Andre Segovia, John William, Paco de Lucia, Rafael Rabello e na guitarra, a lista é grande: Eddie Van Halen é quem me fez interessar pelo instrumento de uma maneira séria. Considero que depois do Hendrix, ele foi o segundo cara a reinventar a guitarra. Também me influenciei muito por Steve Vai, Joe Satriani, Paul Gilbert. Tudo isso falando a respeito de instrumentos, pois como me formei bacharel em violão, composição e arranjo, você acaba estudando todos os eruditos, como Mozart e Villa Lobos.
Roberto: Você falou de muitas pessoas que o influenciaram, mas sobre os músicos paulistanos, tem algum músico ou banda que você goste?
Oliveira: Claro, têm vários. Um pessoal da década de 80 que eu ouvia muito Arrigo Guarnabé, Itamar Assumpção, eu o considero um gênio, infelizmente já falecido. Ele tem um disco chamado Sampa Midnight, que eu acho obrigatório para todo músico sério. Esta turma que estou falando faz um som que considero tipicamente paulistano, um som de capital. Premeditando Breque é um grupo muito legal, o Língua de Trapo que era um grupo que eu assistia bastante também, na área cômica. Eles faziam uma brincadeira, mas é um som que tinha muito a cara da cidade.
Roberto: Esses músicos que você citou realmente fazem parte do acervo musical paulistano, mas apesar disso, não vemos uma manifestação de um ritmo que venha da capital. Existe, por exemplo, no interior do Rio Grande do Sul o Chamamé, o Fandango, no Rio de Janeiro o Funk “Batidão”, mas em São Paulo não há nada parecido. Qual o seu ponto de vista? Existe uma música tipicamente paulistana?
Oliveira: São músicas que retratam bem as cidades. Neste ponto nós temos até músicos que não são paulistanos, mas que retratam muito bem a nossa São Paulo. O Tom Zé, por exemplo, é um músico tropicalista do estilo de Gilberto Gil, Caetano Veloso, aquela turma toda que fez em determinada época um som com a cara de São Paulo. Mas eu acho que o som dele incorpora muitos elementos de uma cidade grande, com os instrumentos musicais, por exemplo, uma serra elétrica que é um som comum para o paulistano, o som de máquinas industriais. Falar sobre ritmo aqui é complicado porque São Paulo é uma das poucas cidades que você tem opção de show de segunda a segunda e vários deles gratuitamente. Têm vários espaços aqui. Se você quiser um flashback, por exemplo, uma música lenta, tem baile pra isso, se quer ouvir Country, sertanejo tem também. São Paulo te oferece a oportunidade de aproveitar cada um dos estilos musicais, eu acho que essa diversidade é muito legal, mas realmente falar qual é o ritmo de São Paulo? Eu diria que todos.
Roberto: Existem alguns ícones como o Itamar Assumpção, Adoniran Barbosa no samba, que fizeram coisas muito diferenciadas. Levando em consideração o perfil histórico destas personalidades o que você considera crucial para que estes músicos tenham atingido o reconhecimento ao ponto que suas obras ganharem o título de obras Paulistanas?
Oliveira: Você falou do Adoniran Barbosa, eu ainda vou além tem um sambista ainda vivo, o Germano Mathias que é fantástico. Ele tem um trabalho muito legal que eu diria que seja uma coisa até ligada ao underground. Não é um cara que está na mídia, de vez em quando aparece em alguns programas, mas nunca esteve na mídia e faz um trabalho fantástico. O ritmo dele é aquele samba de breque, inclusive ele usa uma latinha que os sambistas antigos usavam muito, na época em que São Paulo era mesmo a terra da garoa, usavam uma latinha de engraxate, e faziam batuques ali. Os Demônios da Garoa têm um samba que é exatamente a cara de São Paulo junto com Germano Mathias. Além disso, você tem uma turma que faz uma MPB mais paulistana. Se você pegar, por exemplo, os primeiros trabalhos do Guilherme Arantes, nos anos 80 ele era chamado de “o poetinha de São Paulo”. E era de fato, um trabalho muito próximo que ele fazia de uma música paulistana ligada à Pop Music universal porque é a influência dele. Ele teve uma formação muito boa no piano e ele até fez parte de um grupo chamado “Moto Perpétuo” na década de 70, pouca gente sabe disso e que era um grupo progressivo. Guilherme Arantes fez parte disso e fez dentro de universo de uma MPB mais Pop, vamos assim dizer, eu não gosto muito de rótulo, a diversidade aqui é muito grande você tem vários músicos atuando em várias áreas com certeza eu acho que isso aqui não falta em São Paulo. Inezita Barroso, por exemplo, essa mulher pega uma música de raiz, abrangendo o Brasil todo, mas especificamente do interior de São Paulo e trouxe isso para a capital. Ela cantou Lampião de Gás que é uma música pra quem viveu uma época em que a iluminação pública era através de lampiões de gás. Se você conversar com uma pessoa de mais de 70 anos ela vai te falar como era e essa música retrata isso. É aquela coisa de você fechar os olhos e ouvir a letra e imaginar como foram mesmo as ruas de São Paulo, os paralelepípedos, a garoa caindo e alguém acendendo os lampiões de gás, é uma música paulistana e isso já tem muito tempo.
Roberto: Você comentou sobre Germano Mathias, sambista que você considera underground e esta vertente está em alta atualmente. A Rua Augusta, por exemplo, é tida como um circuito para o estilo alternativo. Como você vê este fenômeno? Ao invés de manter o padrão de quebra com o comum não acaba virando um modismo passageiro?
Oliveira: O grande problema é que tudo o que aparece, o mínimo automaticamente é assimilado. A contracultura, por exemplo, nos anos 60 surgiu como um antídoto contra a mesmice que existia na época, mas foi automaticamente assimilada pela indústria e virou um novo produto. E olha que veio como contra cultura. Aqui é a mesma coisa é até interessante citar a Rua Augusta. Para quem viveu, nos anos 60, no final dos anos 50 a Augusta era um “point”. A turma ia passear de “carrão”, ouvir os hits da época, Roberto Carlos, essa turma toda freqüentava lá e agora veja como as coisas são cíclicas, passaram-se duas, três décadas e está lá a Augusta como point de novo, acho que é uma característica da cidade. O bairro da Pompéia para o rock´n roll, foi lá que surgiu Os Mutantes, quer uma manifestação mais paulista do que Os Mutantes? O lugar ficou estigmatizado como o bairro roqueiro de São Paulo. Agora a coisa do pessoal cultuar o underground, isso sempre vai existir, porque é por onde todo mundo começa, é mais fácil de você começar com um trabalho caseiro, de garagem e algumas pessoas acabam tendo isso como estilo de vida. É uma maneira de se colocar em alguma tribo, isso se torna uma necessidade, é assim pra qualquer adolescente. Por outro lado se a gente pensar que bandas mundialmente famosas como os Ramones já foram undergrounds, Os Beatles já tocaram em porão, ai eu considero uma coisa boa. Existe criatividade por não haver uma cobrança de mídia o artista pode ir lá experimentar uma idéia que ele tem na cabeça.
Roberto: Então, o culto ao underground passa a ser mais uma “forma de se encontrar” do que uma expressão artística? Você considera uma questão de identidade musical ou comportamental?
Oliveira: Eu acho que é comportamental. Se você conversar de música com essas pessoas, alguns nem sabem aquilo que estão curtindo, não tem uma noção exata daquilo que estão ouvindo não sabem nem classificar às vezes um estilo musical. Acredito que esta questão de comportamento leve as pessoas a evoluir muito, a pesquisar a respeito, a seguir o embalo. Agora o que acontece com a música underground de uns tempos pra cá é que elas têm ficado muito elitizadas e está segregando um pouco. Muita gente criativa não está aparecendo porque o underground está tão cultuado que acaba ficando uma coisa meio elitista, um “clubinho” fechado.
Roberto: Nós falamos de muita coisa sobre São Paulo e suas características artísticas alternativas. Não há resposta certa para muitas coisas, mas o que você considera de fato música alternativa na cidade?
Oliveira: Eu acredito que não existe um alternativo puro e felizmente já não tem mais espaço para falta de profissionalismo. O que mais se aproxima de um “alternativo puro” aqui em São Paulo é a música instrumental, é um lance bem organizado, Jazz, MPB também. Você encontra saxofonistas muito bons, fazendo shows por ai, guitarristas excelentes, duos, trios, quartetos de violão. Temos compositores, mas nesse ponto quero criticar construtivamente, pois muitos deles estão usando moldes extremamente desgastados para criar, como as músicas de protesto, por exemplo, e não vai dar certo. Para as pessoas que gostam de música alternativa, eu recomendo pesquisar, pois tem muita coisa boa, mas não na internet, somente indo à procura pela noite, conferindo o músico trabalhando no palco, onde você vai ter acesso a conversar com ele, pois nesses espaços alternativos quando o show termina o músico se torna “mais um na multidão”. É a melhor forma de encontrar algo diferente, indo a campo.
2 comentários:
Zé, tem um selo para você no meu blog, veja lá!!!
Montanha
Zé deixei um selo pra você no meu blog....Bom fim de férias!!! Abraço.
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